Aventurar-se nos mágicos caminhos da palavra encantada, abrindo o coração à visão do invisível, ao gesto da escuta, ao olhar que se maravilha, ao pensamento mágico e imaginativo, ao universo brincante, à diversidade cultural dos povos é o convite deste projeto de trabalho e vida.

DESÍGNIO

Ser que fantasia, se maravilha, admira, brinca, celebra,
é o Ser que encantares busca e cultiva.

Em nosso mundo tão cheio de pressa,
afazeres, informações velozes, necessidades prementes,
tornam-se esquecidas estas dimensões vitais do ser .

A prosa boa já não rola solta ao redor da mesa;
as brincadeiras não povoam os quintais e ruas;
as palavras não assombram as noites escuras,
nem embalam o sono das crianças;
o olhar não viaja com nuvens e estrelas;
o ouvido não capta os leves rumores das flores  se abrindo;
a roda não gira de mãos dadas;
a festa não vibra reinstaurando o tempo sagrado no tempo cotidiano.

Mas já não se podem ocultar os prejuízos
que o alheamento destes gestos essenciais ao homem,
causa tanto às crianças como aos adultos.

Maravilhar-se, assombrar-se, deslumbrar-se, brincar,
são ações vitais ao Ser Humano.
Ações plantadas na primeira infância;
ações a serem cultivadas por toda a vida.
                         
Tendo saboreado estes prazeres,                     
que vão se tornado antigos e até mesmo arcaicos;
tendo sentido a vertigem de habitar mundo fantásticos,
de viajar com as fadas, de rodopiar, correr, jogar,
sinto e sei que é preciso continuar a semear a magia,
o maravilhoso e o lúdico em nosso tempo presente.

Com este desígnio,trago à luz do presente,
tesouros adormecidos nos véus dos tempos.
Não são diamantes cristalinos, 
nem pepitas de ouro e prata!
São histórias, brincadeiras, danças de roda e outras artes
que também guardam riquezas
 suas formas e matérias,
tão antigas e tão belas!

Formas nascidas do anseio humano de celebrar,
Compreender e expressar as belezas,
dádivas e mistérios da vida.

Formas igualmente lapidadas
com primor ao longo dos tempos.
Não, pela ação das águas ou ventos,
mas pela ação de cada serque as recebe,                               repete e renova.

Como as jóias, que resplandecem                                                quando tocadas pela luz,
estas que ressurgem da memória,
também nos presenteiam com seus raios luminosos.

Quando voltam a se sentir acolhidas pelos homens,
emanam luzes poderosas,                                                                     que descerram trevas e sombras,
que desvelam mistérios.

Por suas imagens tecidas em palavras
que vibram tanto no ser que fala
como no ser que escuta;
Por seus símbolos desenhados nos corpos e no espaço,
em gestos e passos rítmicos;
Por sua graça e espírito,
nossos ancestrais compreendiam a si mesmo
e ao mundo que os envolvia.

Mesmo sendo tão antigas, e revelando a visão de mundo
da cultura de onde se originam,
estas formas de expressão e conhecimento milenar
ainda tocam o Homem de qualquer idade, tempo e lugar.
Por sua linguagem lúdica e simbólica,
por sua temática que ilumina temas essenciais
ao exercício da vida transcendem o local,
revelando a longa trajetória do Homem
no aprendizado de sua humanidade.

Fazendo vibrar estas artes em nosso tempo presente
vou cumprindo a promessa feita às fadas que
povoaram minha infância:
reencantar os ares com as relíquias tecidas por nossos ancestrais.
Como os bardo, griots, rapsodos, brincantes, festeiros,
celebro e agradeço a vida que nos foi dada.
A natureza, com a riqueza de seus elementos e seres;
os tempos do ano e da vida; 
homens, povos,  deuses; 
festas, valôres e bens preciosos;
 são festejados nos trabalhos criados ao longo destes vinte anos de itinerância.