Nestes dias deleitei-me com a a leitura de "O Minotauro" de Monteiro Lobato. Fazia tanto tempo que não me deciliava com o texto deste mestre de nossa língua e da literatura para crianças. Ria sozinha sentindo prazer com a construção da linguagem ao mesmo tempo tão singela e precisa. Quando os picapaus perguntam ao oráculo onde está Tia Anastácia, a Pítia responde: "O trigo venceu o monstro de Guampas". Capiscou? Qual o significado da resposta enigmática? Emília logo atina: Trigo, bolo, pão, bolinho, é igual a Anastácia! Guampas é chifre ou Minotauro: o único monstro que os tem ! Então: com seus bolinhos, Tia Anastácia venceu o Minotauro!
Também encantei-me com os símbolos dos mitos gregos. Como toda história dá pistas para sua história, maravilhei-me com o novelo que segue sózinho pelos corredores indicando o caminho até o centro, o foco, o núcleo, o âmago. Deixar-se levar por algo maior! Por algo que sabe, para além de seus pensamentos, conclusões, inferências.
Por onde ir? Qual caminho tomar neste labirinto intrincado? Não conduza! Deixe-se guiar pelo fio de Ariadne: mulher que confiou ao amado o segredo do labirinto a ela revelado pelo seu construtor. O amor cede o segredo! Por amor entrega a chave do mistério. Mas a amada acaba traída! Ariadne é abandonada por Teseu. ..
Outros monstrengos surgem trazendo revelações. Lá está Hercules golpeando as cabeças da Hidra de Lerna. Cabeças que renascem, renascem... Como os pensamentos infindáveis, recorrentes...
Mas voltando a Lobato, é incrível como ele mantêm o controle entre ficção e conhecimento, sem derrapar no didático. Também é lindo como propõe o jogo da fantasia, da realidade mágica. Com um simples "Tchibum" , os picapaus viajam no tempo. Com os pós, número um e dois atravessam séculos e espaços.
E como fala das ninfas! Com que propriedade! Bela, sua visão da natureza! Salve Lobato!